Belmiro de Almeida - Dois Meninos Jogando Bilboquê
Sentados na mesma pedra, à beira de água, disse o menino ao pequenito:
- Que lindos cabelos tens! Parecem de ouro ...
- Se meus cabelos fossem de ouro, minha mãe, que é tão boa, não trabalharia tanto.
- Tens mãe?! - Exclamou o menino, maravilhado.
O pequenino corou como com uma afronta.
- Se tenho mãe?! Ela é que me penteia os cabelos; ela é que me conta histórias; ela é que me cura, quando adoeço; ela é quem me conserta a roupa e me adormece ao colo, cantando, quando, nas noites escuras, tremo de medo ouvindo a coruja. Tenho mãe, como não !? Também não sou tão pobre assim !
- Pois eu não tenho! - suspirou o menino. - Minha mãe morreu quando nasci. Estas terras, com tudo o que nelas há, são de meu pai, que só me tem a mim. No palácio em que moro já se hospedou um príncipe com toda a sua corte. O salão em que durmo é todo forrado de seda com lustres de ouro e tapetes onde os pés se afogam. São tantos os meus criados que, a muitos, tenho por estranhos e pasmo quando me pedem ordens.
- E quem lhe conta histórias?
- Histórias? Leio-as nos livros.
- Quem o veste e penteia?
- A velha aia.
- Quem o acalma à noite, quando a coruja chirria e o vento geme nas árvores?
-Rezo a Nossa Senhora.
- Quando adoece, quem o cura?
- Os médicos.
- E quando a tristeza entra em seu coração, quem o consola?
- Choro.
Levantou-se então o pequenito e tomando nas mãos as do menino milionário, encarou-o compadecido, com os lindos olhos arrasados de água.
- Porque choras? Que tens? - perguntou o menino, comovido.
- Choro de pena, porque nunca pensei que houvesse no mundo outro menino mais pobre do que eu.
COELHO NETO
4.5.11
O MENINO RICO E O POBREZITO
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