4.5.11

O MENINO RICO E O POBREZITO

                                               Belmiro de Almeida - Dois Meninos Jogando Bilboquê

 
Sentados na mesma pedra, à beira de água, disse o menino ao pequenito:

- Que lindos cabelos tens! Parecem de ouro ...

- Se meus cabelos fossem de ouro, minha mãe, que é tão boa, não trabalharia tanto.

- Tens mãe?! - Exclamou o menino, maravilhado.

O pequenino corou como com uma afronta.

- Se tenho mãe?! Ela é que me penteia os cabelos; ela é que me conta histórias; ela é que me cura, quando adoeço; ela é quem me conserta a roupa e me adormece ao colo, cantando, quando, nas noites escuras, tremo de medo ouvindo a coruja. Tenho mãe, como não !? Também não sou tão pobre assim !

- Pois eu não tenho! - suspirou o menino. - Minha mãe morreu quando nasci. Estas terras, com tudo o que nelas há, são de meu pai, que só me tem a mim. No palácio em que moro já se hospedou um príncipe com toda a sua corte. O salão em que durmo é todo forrado de seda com lustres de ouro e tapetes onde os pés se afogam. São tantos os meus criados que, a muitos, tenho por estranhos e pasmo quando me pedem ordens.

- E quem lhe conta histórias?

- Histórias? Leio-as nos livros.

- Quem o veste e penteia?

- A velha aia.

- Quem o acalma à noite, quando a coruja chirria e o vento geme nas árvores?

-Rezo a Nossa Senhora.

- Quando adoece, quem o cura?

- Os médicos.

- E quando a tristeza entra em seu coração, quem o consola?

- Choro.

Levantou-se então o pequenito e tomando nas mãos as do menino milionário, encarou-o compadecido, com os lindos olhos arrasados de água.

- Porque choras? Que tens? - perguntou o menino, comovido.

- Choro de pena, porque nunca pensei que houvesse no mundo outro menino mais pobre do que eu.

COELHO NETO

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