25.5.10

Quando O Professor Estuda O Aluno Aprende Melhor



O Robson Garcia, lá do Caldeirão de Idéias, fez uma sugestão na lista dos Blogs Educativos: a leitura do texto do Professor Pedro Demo, intitulado PROFESSSOR – PROFISSIONAL DA APRENDIZAGEM. Demo aponta uma série de características que evidenciam uma cultura de formação do professor pautada no instrucionismo, qual seja, a que fazem os professores suporem que devam “aprimorar seu jeito de ensinar, não de aprender”. E para o autor, “aprimorar a aprendizagem discente implica aprimorar a aprendizagem docente”.



Identificado como um vício capital, o instrucionismo é caracterizado dentro de uma “tradição reprodutivista escolar, calçada no argumento de autoridade, na disciplina, na transmissão de conhecimento, no currículo como “grade”. O aluno é mantido na condição de objeto de instrução, evitando-se que compareça como autor. Na prática, nem o professor é autor, muito menos o aluno. Faz parte do instrucionismo também a aleivosia de confundir aprendizagem com aula. Embora aula sempre caiba como expediente auxiliar, grande parte das aulas não ultrapassa o argumento de autoridade, esvaindo-se em pretensões disciplinares arcaicas”.



Em tese, o aluno é a figura central na escola, mas o professor é a centralidade da aprendizagem do aluno. Na prática, o aluno aprende como o professor aprende.



Bom, a pergunta que me fiz, no final da leitura do texto, foi: qual é meu jeito de aprender? Tomar consciência do meu jeito aprendiz irá melhorar o aprendizado das minhas alunas? Este é um desafio interessante. Mas como apreender como eu aprendo? Cabe lembrar também que o objeto aqui não é o que eu aprendo, mas como aprendo. Isto já é um bom ponto de partida. Porém, como diz um amigo meu, se estou ensinando história da educação caberia levar para a sala de aula como eu aprendi a fazer bolo? Eu posso estar exagerando, mas isto tem sentido, ou seja, o tema/conteúdo do aprendizado está relacionado ao aprendizado de determinada disciplina. Do contrário estaríamos, todos, apenas aprendendo em como fazer bolos.



Salvos pelo gongo do bom senso, acredito que o acordo é sim ensinar/aprender colaborativamente junto com os(as) alunos(as), respeitando as diferenças de experiências entre professor e corpo discente.



Minha forma de aprender é um tanto quanto eclética. Sou lento nas leituras, preciso anotar, rabiscar os textos para capturar as idéias e dialogar com as mesmas. Na infância, lembro que sentia dificuldade em concordar com a professora de português sobre o que era o tema principal de determinados textos que ela nos passava. Mas isto não acontecia em todos os textos, claro. Hoje entendo que esta dificuldade estava na pouca autonomia que tínhamos na interpretação e no medo de estar fazendo interpretações erradas.



Percebo também que é importante a fonte de informações. Hoje busco informações em citações bibliográficas de livros/artigos que leio; nas listas de discussões on-line que participo; blogs; conversas com colegas de trabalho e outros pesquisadores. Vejo que na universidade, há certa dificuldade ao propor uma disciplina, em eleger o que os alunos devem ler prioritariamente. Quando seleciono um texto significa que outras leituras e entendimentos foram feitos, o que certamente adjetiva a minha compreensão, que será diferente das alunas. Explicitar estes procedimentos não seria um caminho de pensar o como aprendi?



Mas este aprendizado está pronto quando vou para a sala de aula? Não. Ao problematizar textos, sugerir o debate de idéias, outras possibilidades de aprendizado/interpretação são lançadas no jogo. Acredito que ao fazer isto, lanço mão do meu esforço em ter estudado para publicar a aula, mostrando meu próprio percurso. E mais, propondo a produção de textos sobre questões abertas do tema estudado. Faço isto também utilizando este blog como referência para a continuidade da produção intelectual de sala de aula, oportunizando às alunas outro local de debate.

Poesia

PROFESSOR


Que tipo de professor sou eu?

Por todo e qualquer motivo mostro a porta da rua ao meu aluno.

Que tipo de professor sou eu?

Afinal, estou em sala de aula para responder quantas vezes a criança perguntar. Porém, ofereço-lhe a porta de saída.

Que tipo de professor sou eu?

Meu aluno de 10 anos de idade, apenas 10 anos, por conversar demais, eu lhe ofereço a porta de saída.

Que tipo de professor sou eu?

Quando meu aluno pergunta a hora ao coleguinha, mostro-lhe a porta de saída.

Que tipo de professor sou eu?

Meu aluno não traz a tarefa: aponto a porta da rua para ele.

Que tipo de professor sou eu?

Também não faço minha tarefa e fica por isso mesmo...

Por que não sou posto para fora? Por que não surge alguém para me mostrar a porta de saída?

Que tipo de professor sou eu?

Não pesquiso as dúvidas dos meus alunos e, quando sou cobrado, respondo: “não concordo”.

Que tipo de professor sou eu?

Meu aluno pesquisa a tarefa que não pesquisei, porém, tenho receio de repassar o estudo. Será medo de mais uma vez lhe apontar a porta de saída?

Ei, professor, você já descobriu que tipo de professor é você?

Eu ainda não consegui definí-lo.

Ei, professor, faça uma auto-análise.

A porta deve ser de entrada e não de saída.

Entrada de carinho, atenção, motivação, sabedoria.

Entrada de conquistas...

Sinceramente, professor, você não acha que a porta está sendo oferecida à pessoa errada?


de Sandra Arruda
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