Barulho, traço cultural brasileiro? Por quê?
Por Mariana Souza
Existem desejos dentro de nós que não se aquietam enquanto não satisfeitos. Tão fortes, não deixam alternativas outras que não a de morrer em vida ao nunca realizá-lo ou a de se matar na tentativa de fazê-lo. Assim tem sido comigo. Perguntam-me a razão de empreender a ‘luta perdida’, esse desejo febril de revoluções dentro de mentes, remoção de idéias perpetradas, sedimentadas, vigorosamente legitimadas... Falsas todas elas. Por isso mesmo empreendo a tal luta, teimosa, ardente... Movida por força maior, mistério oculto, uma idéia fixa de que algo é preciso ser feito. Nem tudo será perdido.
Durante dez anos fui testemunha silenciosa de um progressivo empobrecimento da cidade e do homem.
Cita-se a cidade de Itabuna, nos seus cem anos, uma velha senhora, empobrecida e deselegante. Não ajuda o seu rio, outrora orgulho estético local, hoje fétido, definha a olhos vistos.
“É progressiva, a degeneração!” pensei, com profundo pesar lançando olhar sobre tudo, impotente.
Por que as escolas fracassam, seus alunos não aprendem, não têm disposição para fazê-lo, mas gastam quilos de energias em futilidades, buscas vazias? Que geração é essa, onde vence às largas os anti-heróis? Por que o trabalho árduo, criativo, a luta boa enfim, perde às largas para a procura desenfreada e insaciável de prazer? Ah! Desaparece o bom senso, imediatismo e oportunismo prevalecem! Perde-se miseravelmente a noção do outro, egoísmo e mesquinharias grassam sem forças que os contenham!
Por que tanta tecnologia, metodologias, estratégias, tanta sofisticação e facilitações não dão conta de fazer o cidadão, ao contrário, triunfa a vulgaridade, o corpo leso, anestesiado por muitos vícios?
Por que nada freia o grito deselegante, a agressividade, a criminalidade, o banditismo?
Perguntas, perguntas. Centenas delas... Todas cheias de resposta cômodas. “É efeito dos tempos modernos, do infindável número de escassezes e excessos!” dizem todos, unânimes... Impotentes como eu.
Não há soluções...
Não enquanto todas as respostas estiverem fora do homem...
Enquanto assim for, triunfará o grito, o caos, o nascimento de um novo ser, que de modo algum se chamará cidadão.
Mas, então, empreendo a luta árdua de remover pedras de dentro de mentes, guiada às cegas pelo tal desejo, pela crença de que nalgum dia, nalgum momento o homem se tornará humilde o bastante para compreender que a solução está dentro dele, preciso apenas vencer a si mesmo, deixar de inventar bodes expiatórios para todas as desgraças que lhe caem sobre a cabeça... Preciso tão somente mover-se, ser nobre ao fazê-lo! Entender ainda que por mais que não queira, por mais que se recuse, certas mudanças são necessárias, forçosamente DEVEM acontecer, pressionadas pelo peso do que está em jogo.
O homem humilde e sábio se curva ao que é de imperativo, maior que seus próprios desejos.
Então: BARULHO, traço cultural brasileiro? Por quê? Que razões temos para nos orgulharmos dele? Obsceno, deselegante, irritante, nocivo... Não é tempo de negá-lo já, para bem de nós mesmos?
Não importa o peso de uma identidade, é preciso removê-la quando se torna nociva e vergonhosa. Além de tudo, A VERDADEIRA expressão de felicidade está no sorriso SERENO, não no BARULHO IRRITANTE!
E de há muito o sorriso brasileiro deixou de ser sereno, sumiu a elegância. Fisionomias crispadas, gritos e pobreza em amplos sentidos desfilam pelas ruas. Esse traço, hoje ignóbil graças a pratica patética e bestial dele, deve ser removido pelo que de mais precioso está em jogo: a saúde física, mental e espiritual de todos nós, mutiladas todas por ele, o barulho.
Precisamos nos convencer de que BARULHO É DROGA, a pior de todas, pois facilmente se alastra, numa velocidade surpreendente faz milhares de vítimas! E surdez não é a única doença produzida por ela! (procurar Google: ‘Os efeitos do barulho no cérebro e no comportamento’).
Precisamos aprender a fazer uso devido das tecnologias. Também os comerciantes precisam entender que lucros a preço de saúde é mais que prejuízo, é perigoso!
Possamos ser produtivos e empreendedores, ter salvaguardadas nossas mentes, nossas infindas possibilidades de vida e crescimento... Possamos, enfim, apreciar os fios finos da vida, drasticamente ofuscados pelo massivo e onipresente barulho.
Seremos felizes quando formos capazes de ver nos problemas a nossa conivência, nossa parcela de culpa. De nada adianta cruzar os braços, ou esbravejar encontrando culpados para tudo. Seremos felizes quando formos capazes de remover idéias ultrapassadas, provadas nocivas a olhos vistos. Seremos felizes quando cada qual fizer sua parte e a soma de todas as partes JUNTAS debelarem cada mal que nos atinja. Seremos felizes quando entendermos que todas as soluções estão dentro de nós mesmo, cidadãos comprometidos com a vida, nobres, produtivos e empreendedores.
VOCÊ, adepto do som, por favor, entenda: nossa Campanha não é contra o som, ou contra você. É contra o USO ABUSIVO DELE! Aquelas cargas monstruosas de decibéis que não têm hora nem lugar para acontecer e drasticamente mutilam mentes, inclusive a sua! Nossa campanha é educativa, contra o BARULHO em si mesmo, que fere a todos nós, indistintamente. Pense um minuto... Apenas um exemplinho: você gostaria de ser acordado, altas madrugadas, depois de um dia árduo de trabalho, pelo som estridente e ininterrupto de uma música que você não escolheu, muitas vezes a detesta? Não é isso tortura e agressão? Compreende-se que todos têm o direito de ouvir àquela musica de que gosta. Mas, não é de todos, indistintamente, o direito à saúde que vem do repouso?
Que repouso temos tido nestes últimos anos que vimos crescer em projeção geométrica o número de horrendas e deselegantes caixas de som em todos os estabelecimentos comerciais, casas residenciais, carros, ruas, igrejas, escolas? E os I-pods, celulares...?
O vício devora um número massivo de cidades, empobrece-as em amplos sentidos. Pior: seus cidadão se acostumam com isto.
Respeito a TODOS OS DIREITOS, saúde e paz, eis intenção da Campanha de Utilidade Pública “PARCEIROS DO SILÊNCIO”, nascida na cidade de Itabuna, mas uma campanha de todos, com desejos ardentes de se espalhar por todo o país visto que o barulho já é doença coletiva, calamidade pública que atinge toda a nação.
PARTICIPE! Seja um a mais a fazer prevalecer o bom senso!
do site
http://www.noticiacapital.com.br
3.4.11
Barulho, traço cultural brasileiro? Por quê?
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